Medo de dirigir

No decorrer da evolução da espécie humana, a resposta de medo foi sendo selecionada naturalmente, por aumentar a probabilidade da sobrevivência dos indivíduos e perpetuação da espécie. Isto implica dizer que o medo é um comportamento filogenético, pois é uma aquisição evolutiva. O medo, trata-se de uma resposta a um sinal de perigo que ameaça a vida.

Portanto, é possível afirmar que o medo é necessário para todo organismo, desde que sua emissão ocorra em níveis considerados normais, que não afete as atividades da vida do sujeito.

Em relação à ação de dirigir, é algo necessário dentro das condições de vida das pessoas na atualidade. Dirigir, trás um conforto considerável, facilitando a locomoção dos indivíduos ao trabalho, ao lazer e à todas as atividades diárias.

Dirigir, requer o treinamento de habilidades com o carro, trânsito, semáforos e conhecimentos das leis de trânsito.

No início do aprendizado, o sujeito fica receoso, com medo que algo ruim aconteça, mas à medida que o treinamento se intensifica, esse medo vai diminuindo gradativamente. Em termos neurológicos, um novo circuito neural vai sendo formado para essa atividade de aprender a dirigir e que, com a continuação do treino, esse circuito vai se fortalecendo, até ficar automatizado.

Em alguns casos, o medo de dirigir, se torna excessivo, causando prejuízos ao sujeito, impossibilitando-o de realizar atividades que necessitem de dirigir.

Nesse momento, alguns indivíduos relatam que sentem um grande desconforto, limitação e/ou incapacidade em executar a tarefa de dirigir.

O medo de dirigir, por si só não explica as dificuldades de dirigir. Em uma visão comportamental, o medo de dirigir, é analisado como um comportamento resultante de consequências passadas na história de vida do sujeito e da sua relação com o ambiente no qual ele está inserido.

Vejamos um exemplo.

Antônio, ao dirigir na chuva sofre um acidente de carro. A partir desse momento, nos dias chuvosos ele relata que seu medo aumenta e, em alguns momentos, prefere não sair com seu carro e pega carona com um amigo para ir ao trabalho.

O que está acontecendo com Antônio?

Quais as variáveis envolvidas nesse processo?

Percebemos que nesse processo, ocorre um emparelhamento de estímulos. A visão da chuva durante o ato de dirigir é um estímulo neutro, que elicia uma resposta de medo. No momento do acidente, o estímulo chuva é emparelhado com estímulos como o barulho do acidente, dor e desconforto – o que chamamos de estímulos incondicionados.

Em outros momentos, só o fato do Antônio dirigir na chuva, poderá eliciar respostas emocionais de medo e ele ter sensações desagradáveis, como dor de barriga, taquicardia, sudorese, tremores, tontura.

Assim, à medida que o indivíduo se esquiva, como Antônio fez, a dificuldade de dirigir aumenta pela relação comportamental existente na história de vida do sujeito, e as consequências do ato de dirigir passam a ser aversivas. O simples ato de pensar em dirigir, desencadeia um processo ansioso e reações fisiológicas, relata Antônio.

Quais as contingências que produzem e mantêm o medo de dirigir?

Para responder essa pergunta é necessário fazer uma análise funcional da vida do sujeito, para discriminar as variáveis envolvidas. Em alguns casos, é possível observar o seguinte: pessoas que têm um alto nível de exigência consigo e que têm medo de errar; pessoas que têm grande necessidade de ter controle sore os eventos ambientais e no trânsito, isso não é possível; pessoas que não desenvolveram habilidades de enfrentamento e pessoas que têm dificuldades em resolução de problemas, no caso de acontecer um acidente, por exemplo.

Certamente, existem possibilidades de intervenção psicoterápica para desenvolver habilidades no comportamento de dirigir.

No processo interventivo, é fundamental desenvolver no indivíduo, a capacidade de enfrentamento do medo e dos aversivos na ação de dirigir. Desse modo, novas respostas mais adaptativas surgem e são ampliadas, o que possibilitará a sobrevivência do sujeito, com uma melhor qualidade de vida.

Valdenice Guimarães – Psicóloga Analista Comportamental

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *